No arranque da edição de 2018 da conferência de Oncologia mais expressiva da Europa, organizada sob a égide da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO), 27 mil participantes de 138 países e 350 jornalistas aguardavam, em expectativa.
Subordinada ao tema “Garantir o acesso a cuidados oncológicos otimizados”, a edição deste ano reforça o compromisso da Sociedade em “garantir o acesso a conhecimento especializado e às terapêuticas certas a todos os doentes, onde quer que vivam e sejam tratados”, declarou o presidente da ESMO, Dr. Josep Tabernero.
A reunião de 2018 da ESMO reforçará a importância da multidisciplinaridade na prestação dos melhores cuidados médicos em Oncologia “através da parceria inédita com a Sociedade Europeia de Enfermagem Oncológica (EONS)”.
Entre a miríade de sessões impactantes encontram-se temas como a big data (i.e., o processamento de grandes volumes de dados) na genómica, as tecnologias do futuro e oportunidades emergentes em Imuno-Oncologia, nomeadamente como vencer a resistência às imunoterapias e como manipular o microambiente tumoral a favor da imunoterapia.
Outro hot topic deste ano, e um tema incontornável no panorama global do tratamento oncológico, é a sustentabilidade dos sistemas de saúde e como a assegurar quando o valor dos tratamentos oncológicos ameaça atingir valores proibitivos. Na conferência inaugural do Congresso da ESMO 2018, o Dr. Josep Tabernero sublinhou o “compromisso da ESMO em continuar a apostar na melhoria da acessibilidade a medicamentos inovadores, mas também a medicamentos essenciais − que não podem deixar de estar disponíveis para os doentes − e a biossimilares”.
Durante a sessão de abertura, a Prof.ª Doutora Solange Peters, presidente do Comité Científico do Congresso, salientou a importância de assegurar que as inovações reportadas durante o encontro “cheguem aos doentes certos no tempo certo”.
“A ESMO 2018 é, antes de mais, sobre inovação e ao longo destes cinco dias serão apresentados dados preponderantes de ensaios clínicos sobre potenciais novos tratamentos para os cancros da mama, próstata e ovário, entre outros. Mas esta conferência é também sobre integração e sustentabilidade, e a Sociedade encoraja uma abordagem mais integrada aos cuidados oncológicos, bem como um debate associado que informe as políticas em saúde sobre modelos de cuidados acessíveis e sustentáveis”, afirmou.
Ao longo do Congresso, serão apresentados dados de cerca de 2.000 abstracts, representando quase 116.000 doentes que participaram em ensaios clínicos. Entre estudos focados no acesso aos cuidados, encontrar-se-á também investigação muito relevante a demonstrar grandes assimetrias entre países no tempo que demoram até às decisões de reembolso de novas terapêuticas para o cancro. “Isto demonstra que alguns países europeus levam mais do dobro do tempo de outros a tomar decisões relacionadas com a avaliação de tecnologias em saúde (health technology assessment, HTA) que permitam o reembolso de novos medicamentos para o cancro após a sua aprovação pela Agência Europeia do Medicamento (EMA). O tempo médio de decisão é superior a um ano em alguns países”, frisou a Prof.ª Doutora Solange Peters.
“Sem decisões de reembolso atempadas, baseadas numa avaliação adequada dos benefícios e custo-efetividade de novos medicamentos, os doentes podem perder a oportunidade de receber terapêuticas oncológicas potencialmente determinantes para o seu tratamento”, explicou a investigadora e coautora do estudo, Dr. Kerstin Vokinger, do Hospital Universitário de Zurique, na Alemanha.
Este estudo revelou ainda que as autoridades de saúde geralmente tomam decisões muito mais rápidas para terapêuticas classificadas como tendo “o maior benefício clínico” na Escala de Magnitude de Benefício Clínico da ESMO (ESMO-MCBS), que utiliza uma abordagem racional, estruturada e consistente para avaliar a magnitude do benefício clínico expectável de tratamentos oncológicos. Juntamente com a recém-publicada Escala ESMO para a Acionabilidade Clínica de Alvos Moleculares (ESCAT), que simplifica e padroniza as escolhas de terapêuticas-alvo para o cancro, a ESMO-MCBS ajuda a garantir que as decisões terapêuticas têm por base “os mais elevados padrões de evidência científica”.