Segundo o Dr. Ricardo H. Alvarez, oncologista médico nos Cancer Treatment Centers of America (CTCA), em Atlanta, nos EUA, “o estudo agora apresentado demonstra que é possível efetuar a caracterização molecular de tumores em larga escala e utilizar os resultados para identificar tratamentos dirigidos para os doentes seguidos em contexto comunitário, a realidade da maior parte dos doentes americanos”.
“Nos nossos hospitais, é possível identificar os doentes com cancro avançado, refratário a tratamentos prévios, colher uma amostra de tecido ou biópsia líquida, enviá-la para um laboratório central para análise e obter os resultados em três semanas. Se estes revelarem alterações no ADN tumoral que possam ser feitas corresponder a uma terapêutica-alvo, é iniciado tratamento, habitualmente com um fármaco aprovado noutra indicação ou incluindo o doente em ensaios clínicos com terapêuticas-alvo”, explica o Dr. Alvarez.
No novo estudo, foram analisados dados de ADN tumoral de 6,177 doentes com cancro avançado tratados por mais de 50 oncologistas em cinco hospitais do CTCA, entre 2013−2017. Foram identificadas alterações genéticas em 94% das amostras tumorais, das quais 47% foram consideradas clinicamente relevantes. A análise de um vasto subgrupo de doentes demonstrou que 23% recebeu tratamento dirigido a alterações genéticas do seu tumor. “Isto compara-se aos 11% de doentes que são incluídos em ensaios clínicos de terapêuticas-alvo com base em alterações genéticas tumorais reportados em estudos académicos prévios”, refere.
O oncologista espera que, nos próximos anos, até 50% dos seus doentes venha a receber tratamentos dirigidos, seja através de ensaios clínicos ou de tratamentos com medicamentos aprovados noutras indicações (off-label). “O próximo passo é analisar os efeitos destas terapêuticas-alvo na sobrevivência e qualidade de vida dos doentes”, acrescenta.
No estudo, os tumores mais frequentemente tratados pelos oncologistas comunitários foram os da mama (18%), cólon e reto (15%), pulmão (14%) e ginecológicos (11%). As mutações tumorais clinicamente relevantes mais frequentemente identificadas foram nos genes KRAS (23%) e PIK3CA (15%), e a alteração genética mais comum foi a amplificação génica (32%). Dos doentes cujas alterações genómicas foram utilizadas para identificar terapêuticas-alvo, 57% recebeu terapêuticas já aprovadas pela FDA para outros tumores e 15% recebeu terapêuticas em estudo em ensaios clínicos.
“Estudos como este são importantes, pois evidenciam a necessidade de implementar a Medicina de precisão no contexto oncológico comunitário e oferecê-la de uma forma mais alargada aos nossos doentes”, afirma o Dr. Joaquin Mateo, investigador principal do Prostate Cancer Translational Research Group do Instituto de Oncologia Vall d’Hebrón, em Barcelona, Espanha, e autor principal do estudo recentemente publicado sobre a escala ESCAT (Escala ESMO para a Acionabilidade Clínica de Alvos Moleculares), cujo objetivo é simplificar e padronizar a escolha de terapêuticas-alvo.
O Dr. Joaquin Mateo espera que a implementação total da ESCAT na prática clínica venha a ser uma realidade. “A ESCAT classifica alterações no ADN tumoral de acordo com a sua relevância como marcadores para selecionar doentes para determinadas terapêuticas-alvo, com base na força das evidências clínicas que o sustentam. Esperamos que a escala forneça uma linguagem comum para a determinação de mutações relevantes e para a identificação dos doentes com maior probabilidade de beneficiar de tratamentos dirigidos”, conclui.